sábado, 28 de junho de 2008

Uma vida

Beatriz era filha de Lúcia e neta de Conceição. Mais tarde seria a mãe de Sara e a avó de Clara.

Não gostava de nenhum tipo de poder. Abominava as teias da buro-cracia...

Palácios, vales, asfalto desse mundo e muitos sonhos na algibeira.

Voltou as costas ao mundo e foi em busca da magia do simples acto de respirar.

Um dia, levantava a mão como se pesasse toneladas, abria-a morosamente e os dedos erguiam-se como as portas de um castelo... Espreitou, procurou, levantou cada pedaço de esconderijo... Tinha perdido o sonho... Hibernou e dormiu o sono dos animais. Era o mais profundo sonhar e só assim sonhava agora - quando dormia. Sonhar acordada já não conseguia... E era esta impossibilidade que a contorcia e abafava e em vez de uma vida ganhou um fardo e encheram-se-lhe de pedras a algibeira.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Aqui e agora

Entrou já atrasado
abespinhado, espavorido...

- Porquê a demora?

- Fiquei à chuva, ao vento,
perdi o autocarro.
Não cheguei à hora.

- Porquê só agora?

- Já disse. Foi a chuva e
foi o vento.

- Mas o Sol brilha.

- Foram só 10 minutos,
não é grave.
Esquece. Estou aqui.