segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Poema em 3 Actos

Sono sem Sonho


Encolhe-se os ombros
quando
não se sabe;
se sabe e não se quer dizer;
não se quer saber
nem
que se saiba;
algo não importa;
se quer resposta
mas não imposta
nem reposta por obrigação.

Encolhe-se os ombros
por resignação;
para levantar um pouco
os braços
ainda;
porque não se espera
o que surge;
porque se vive devagar
sem sonho,
com sono,
a vida a bocejar.


Noctívago


Cola-se o dia com a noite
sem manhãs nem alvoradas dormentes,
com finais de tarde
curtos, rápidos, com fulgor de mofo
de dias passados
a papel químico.
Cresce o braço sufocante
do tempo
colam-se as memórias
baralha-se o hoje e o ontem.


Sonolento

Este desassossego em que se vive
certo porque aquela é a única certa;
esta inquietude a pulsar
de memórias revoltas,
de não saber já o que se sabe
nesta volatilidade de Ser.
Este apagar de cigarro
sonolento
cadastrado da vida
de dedos trementes
de despedida
de ósculo lento na face da Vida.

sábado, 4 de outubro de 2008

Outono

Cai o cabelo outonal.
Mais um pé de galinha.

Abrigada no silêncio de casa
entrecortado apenas pelo vento que já se ouve,
depelo minha alma e esvazio o coração.

Apanho mais uma folha -
acabou de cair mais um dia.

Apanho as letras amontoadas da nova estação,
umas tentam fugir, outras encaminham-se bem -
Querem formar frases e mais sentido.

Penso nos zeros e uns de um blog que se alimenta.
Caem ideias de soslaio e imprimo-as
deixando cair os dedos no teclado.

Repito meu nome
uma e outra vez
confirmo-me
asseguro-me que sou eu
e não a alma que se desfez.

domingo, 31 de agosto de 2008

Momento I

«Nunca te vás em vida.»
Acenava depois a cabeça
Dava um suspiro de nada...

«Não deixes que algo que começa
se acabe a meio... por falta de força.»
Escrevi à noite e quando leio
ganho alento e fico outra.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Fotos

Procuro a pasta "Verão 2008";

Um duplo click;

1 segundo - momentos em thumbnails.

Mais 1 click: "Mostrar como apresentação"

E depois é só ir clickando, clickando, clickando...

sábado, 28 de junho de 2008

Uma vida

Beatriz era filha de Lúcia e neta de Conceição. Mais tarde seria a mãe de Sara e a avó de Clara.

Não gostava de nenhum tipo de poder. Abominava as teias da buro-cracia...

Palácios, vales, asfalto desse mundo e muitos sonhos na algibeira.

Voltou as costas ao mundo e foi em busca da magia do simples acto de respirar.

Um dia, levantava a mão como se pesasse toneladas, abria-a morosamente e os dedos erguiam-se como as portas de um castelo... Espreitou, procurou, levantou cada pedaço de esconderijo... Tinha perdido o sonho... Hibernou e dormiu o sono dos animais. Era o mais profundo sonhar e só assim sonhava agora - quando dormia. Sonhar acordada já não conseguia... E era esta impossibilidade que a contorcia e abafava e em vez de uma vida ganhou um fardo e encheram-se-lhe de pedras a algibeira.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Aqui e agora

Entrou já atrasado
abespinhado, espavorido...

- Porquê a demora?

- Fiquei à chuva, ao vento,
perdi o autocarro.
Não cheguei à hora.

- Porquê só agora?

- Já disse. Foi a chuva e
foi o vento.

- Mas o Sol brilha.

- Foram só 10 minutos,
não é grave.
Esquece. Estou aqui.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

12

Devíamos ter a esperança de Janeiro
viver com a folia de Fevereiro
apaixonarmo-nos sempre como Março
cair no ócio de Abril
suspirar como Maio
e ver sempre o céu azul de Junho
parar a meio ... reflexão... em Julho
fruir e desfrutar sempre como se se tratasse de Agosto
desacelerar em Setembro
hibernar em Outubro
mas voltar a acordar em Novembro
com a esperança renovada de ter sempre Dezembro...