sexta-feira, 24 de abril de 2009

25 d'Abril

Pariu-nos o Abril depois de um aborto provocado,
tomámos a Liberdade como ganha,
a Democracia como adquirida.

Quisémos nascer sendo sempre crianças,
fomos um Óscar de um nobel alemão,
prostrámo-nos nessa infinda maresia e névoa
de uma Europa de dinheiros fartos.

E como o Napoleão no Triunfo dos Porcos
bebemos comemos gastámos esbanjámos...
ostentámos o que não era nosso...

Engole-nos a crise e pedimos para morrer
e nascer uma outra vez
e cantar uma nova revolução
fazer uma outra coisa que não esta democracia
que não esta europa
que não esta liberdade...

Pariu-nos o Abril num parto a ferros
após meio século de regorgitação...
Abriu-nos as pernas e largou-nos no mundo
numa jangada de pedra à deriva
foram cravos, meu senhor
foram cravos...

Momentos IV

A um canto do recanto do momento daquela paixão ia buscar um sentimento agridoce, um bater de coração mais rápido, como pôr-de-sol em chamas numa tarde finda de Verão, sem sequer parar para respirar nem tocar de leve na ferida esmagando nas mãos um bocado de uma recordação, qualquer, de mulher, queimando com o frio de uma lembrança que passa de botas pesadas calcando o chão de vários gestos angustiantemente lentos, castrando o pulsar de uma emoção.